12/09/2018

olHOs

As minhas pernas já não são o que eram, tal como a minha memória e então pela segunda vez este mês vou ao sitio mais poderoso que esta casa possui, onde todas as memórias estão guardadas para que em dias como estes me ajudem.
A quantidade de escadas que preciso de subir parecem aumentar à medida que os anos passam, a força pode diminuir mas nunca desaparecer. 

Uma coisa tão simples como este pequeno pedaço de madeira consegue carregar toda a minha vida, e torna-se cada vez mais difícil de fecha-la e regressar ao mundo real, mas eu tenho vindo a conseguir, graças a ele, como sempre.
Existem fotografias a preto e branco que retratam os anos e as memórias mais coloridas que oferecíamos a cada um, sem esperar nada mais nada menos que a reciprocidade fosse o centro do nosso mundo. Vou trocando o olhar em muitas outras fotografias, algumas a começar a apresentar cores e outros rostos, novos capítulos que quisemos escrever juntos.

Nunca pensei no rumo da minha vida, muito menos imaginar mas eu mesma afirmei "impossível" este desfecho. Mas aqui estou eu, sem a roupa cara, a maquilhagem boa e a postura, agarrada a algo que me foi arrancado dos braços quando, apesar dos anos, ainda havia tanto para viver e fotografar. Tantos olhos presentes na nossa casa mas por mais que tentem, nunca saberão tanto como as paredes que a sustentam, olhares que não olham realmente para mim.
Toda eu sou saudade e há dias que grito interiormente aos sete ventos a dizer que não aguento sentir mais a falta dele, que não suporto saber que jamais serei amada por umas mãos daquelas, e por um sorriso daquele.

Mas tenho os meus grandes e pequenos seres e vejo que têm tanto daquele homem neles que merecem ser embalados por histórias dele, e acreditar que o bom nem sempre vem à primeira nem à segunda mas vem, se assim o quisermos, se realmente desejarmos.
Em tardes felizes e aleatórias, sempre dissemos que este lugar que ocupo seria o dele pois juízo nunca constava no meu dicionário, dizia ele.

Está na hora de ir, abrir o pano e continuar o espetáculo que tanto queríamos e mesmo que seja difícil continuar, ás vezes temos que pensar em algo que não nós, algo maior.

E vou indo, lembrando-me dele ali e acolá e ser a mulher que sempre fui, amada e com amor para dar, apenas com um pouco de rugas.


Para a minha neta Lara, que ela saiba sempre que sem qualquer tipo de amor somos uma história monocromática. 

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