26/02/2024

Girassol

é preciso coragem para procurar ajuda, é preciso alguma inteligência emocional e conhecimento para saber que efetivamente precisamos de ajuda e mais que isso, é preciso tempo para entender toda a nova realidade em que nos encontramos. 

penso muito e também converso muito comigo porque nunca ninguém irá saber o que é estar dentro da minha cabeça, o cansaço mental com que chego ao fim do dia e que com o passar do tempo, tem passado para cansaço físico. nem toda a gente sabe o que isto é porque não é algo que seja preto no branco, existe muito cinza e é exatamente essa parte que é tão difícil de explicar (e de sentir também).

estar numa depressão e ter pessoas ao nosso redor é desafiante porque como explicar as inúmeras coisas que sentimos, que precisamos e depois deixamos de precisar. não é para todos acompanhar alguém assim mas confesso que admiro quem tem a paciência de ver um girassol florir.

esquecer-nos de comer, não querer roupa nova, não ter vontade de tomar banho, ver sempre algum defeito no espelho, não ter paciência para ouvir pessoas a falarem, querer dormir dia e noite e ainda assim, andar cansada. é uma vida difícil esta de saber o que estamos a fazer e o que devíamos de estar fazer e mesmo assim, não haver soluções para nos tirar do buraco onde estamos metidos. 

também sei reconhecer que sou sortuda por ter algum amor-próprio e gostar de quem me tenho tornado. na namorada esforçada, na amiga presente, na madrinha babada, na filha calma, na neta esforçada e uma pessoa que trabalha na aprendizagem de escolher as suas batalhas - existem batalhas que estão perdidas ainda antes de começarem devido à pessoa com quem estamos a lidar e quando é assim, aprendi que não devemos forçar as pessoas a dançar a nossa musica. vai custar porque a probabilidade de sair dali um brilharete seria grande mas não podemos forçar nada, nem diminuir-nos para caber em alguém, nunca.

"mas tens tanta gente que gosta de ti" "tens uma relação tão boa" "tens um emprego e um teto, muita gente não tem" - comparar dores e batalhas é o maior erro do ser humano e maior demonstração de falta de empatia, quem tem uma depressão não se esquece (necessariamente) disso tudo, no entanto existem tantas outras coisas que em momentos escuros conseguem pesar muito mais que isso, porque a cabeça não está a funcionar como deveria porque juntando a uma doença como a depressão vem quase sempre de mãos dadas a ansiedade e não é um cocktail agradável.

é uma junção de não querer existir mas de querer ir ver o pôr do sol, a vontade de querer jantar fora mas saber a má companhia que estamos, a confusão de querer arranjar-nos mas saber que vamos ficar feias na mesma, a batalha interna de expor o que sentimos e sermos julgados ou mal entendidos, é toda uma explicação cientifica que envolve noites mal dormidas, muito ou pouco apetite, doenças e dores que aparecem "sem explicação" e que o resultado é sempre o mesmo: "tens de relaxar, isto é SÓ ansiedade".

gostava de compreender mais o cérebro humano para me ajudar, gostava de encontrar o caminho a seguir como outrora já havia conseguido. pensei que tinha tudo controlado por conhecer bem estes caminhos e a verdade é que quando tudo pareceu acalmar, a poeira levantou toda e eu deixei de me ver.


27/02/2023

vonTADe

Apesar de já ter usado a escrita mais do que uso hoje em dia é em dias como estes que ainda a procuro. Faço-o cada vez menos, talvez pelo tempo ser pouco mas porque fica cada vez mais difícil expor(-me).


Não durmo. A minha capacidade de concentração desapareceu e as minhas piadas também, só procuro estes momentos quando sinto que perdi o norte.
A minha máscara caiu, não sinto que consiga continuar com esta personalidade dupla em que se divide num eu sozinha e num eu acompanhada. Estes últimos tempos tenho levantado mundos que não são meus, tenho tentado fazer malabarismo com tantas preocupações e ao fim do dia, quando sinto que não devia ter saído da cama, é que me apercebo que nada do que fiz foi por mim. Talvez seja este o meu maior defeito, fazer surpresas a quem precisa de uma dose de felicidade ignorando os meus próprios sinais de alerta.


Não sou nova nestes caminhos, conheço as cores e a música de fundo e quando me deparo no mesmo sitio, pergunto-me porque me sinto uma borboleta à procura de luz - quando sei que aquilo não me vai ajudar mas ainda assim, deixo-me ir.
Às vezes gostava de não ser tão matura, tão pensativa, tão observadora, tão ansiosa, tão eu. Tenho me sentido fora do meu corpo, quase como se o meu corpo estivesse em piloto automático e pode até ser engraçado quando se trata de uma limpeza doméstica mas perde graça quando me deparo dentro do carro sem saber muito bem o que estou a fazer e onde estou.


Acredito sempre que eu posso esperar, que hei de conseguir levantar-me novamente - não agora nem quando for preciso, apenas quando eu quiser e a verdade é que as minhas vontades não me obedecem - estou prisioneira de mim mesma e nunca um sentimento foi tão difícil de explicar.


Devia deixar que alguém entrasse mas não sei sequer explicar como se vem aqui ter quando já nem eu sei como fiz para vir aqui parar. Não me quero explicar, não quero tentar descrever o quão escura a minha mente tem estado e contagiar ou até mesmo assustar quem quer que seja. 
Tenho melhorado a minha capacidade de escrever sobre coisas boas da vida mas a verdade é que nada tem servido, nada me tem mantido à tona tempo suficiente e cá estou eu, de volta ao mesmo registo.

Escrevi, apaguei, quis desligar tudo e voltei de novo, no entanto, nunca demorei tanto a ouvir-me e a tentar perceber-me. Nunca foi tão difícil. Mas o que interessa é que acabe sempre por voltar e essa vontade eu tenho, eu quero voltar.

27/12/2021

EQuiLIbrio

Depois de uma limpeza profunda ao meu quarto, à minha cabeça e à minha pele chego à conclusão que a nossa vida foi perfeitamente idealizada.

Vida essa que tem um equilíbrio estupidamente ignorado. 

Verão que nos presenteia com dias compridos e com noitadas no terraço de cerveja na mão que para equilibrar, temos no outro prato o inverno, que nos obriga a ligar a lareira depois da jantarada com os amigos e a boa disposição que traz quando as ruas ficam iluminadas pelo melhor acontecimento do ano estar a chegar. Em tudo na vida temos o complemento perfeito, sem sofrimento não havia misericórdia e sem o amor não sabíamos o que era o ódio.  

E é nestas observações, nestas conversas profundas com o meu eu mais complexo que descubro que sou bem mais complicada e enigmática do que eu julgava ser porque para além de me surpreender, descubro-me cada vez mais e às vezes não é assim tão positivo como devia ser, acho poucas as vantagens quando aceito que o mundo tem o seu perfeito equilíbrio entre a Terra e o Mar e depois existo eu que me sinto fora de pé, que pelas minhas contas tenho tido mais momentos maus que bons. 

Não sei se fui esquecida ou se sou apenas um "rato-experiencia" para receber tamanha porrada e ver o resultado, se é o corpo que sai da alma ou a alma que vai culpar o cansaço do corpo. Agradeço, agradeço sempre pelo que tenho, sejam poucos ou muitos motivos para sorrir eu ainda tenho e quando me faltarem, vou olhar para a Lua, vou acreditar que tenho um pouco da beleza dela, que também tenho fases e que vai passar, as lágrimas vão secar. 

Tenho uma ligeira crença que só são dadas grandes batalhas a grandes lutadores.

Ligeira porque vai diminuindo.

Diminuindo porque há dias que não aguento nem uma luta de almofadas. 

Mas mais uma vez o que seria da vitória sem a dolorosa derrota? Não seria devidamente valorizada e é por isso que vou (devagarinho) aceitando este pico mais sombrio porque quero acreditar que melhores dias virão, que todo o cansaço irá desaparecer e voltarei a ter o meu equilíbrio que mais ou menos coisa, será também perfeitamente idealizado.



13/08/2019

RoTiNA

Perguntaram-me se sou feliz com ele e antes de eu sequer responder o óbvio, acrescentaram para eu comparar com o primeiro dia de namoro.
E não foi preciso eu pensar muito para eu perceber que afinal não é assim tão óbvio, que o tempo muda as coisas e só nós mesmos é que controlamos a direção dessa (inevitável) mudança e foi depois desta reflexão assustadora que redobrei a minha atenção.

O dia chega ao fim e (já) não há uma chamada para ouvir e contar como foi o dia, aquela sensação de sermos abraçados mesmo sem sermos tocados, era bom demais falar e falar e quando ele se fartasse de me ouvir, tentar falar mais que eu só para me irritar.
Controlo os ponteiros do relógio para que mal seja hora eu descer, não sem antes confirmar que estou bonita, procuro pelo carro dele e volto a olhar para as horas só para ver o que já sabia. O tempo passa e ele chega, não que tenha olhado mas consigo saber que é ele, e quando entro no carro já não me sinto bonita... Não pela maquilhagem já não estar no ponto, não pelo cabelo ter apanhado com o vento mas sim porque percebi que o que estava a fazer-me (realmente) bonita era o sorriso estúpido de quem vai matar saudades e esse sorriso já não estar presente. Mas agora que olho para ele pergunto-me se é realmente isso ou se é o brilho que ele (já) não tem ao ver-me chegar que fez com que já não esteja bonita?
A noite ficou fria, percebo que estou tapada e o facto de não entender o porquê de tanto frio faz-me abrir os olhos e fico surpreendida ao ver que não estou na minha cama mas sim na dele, ele está nela mas está tão longe que (já) nem parece que estamos a dormir juntos.

O dia está a ser longo e silencioso devido a ter desligado o telemóvel e estar apenas eu e o barulho que faz lá fora, a esta hora ele já estará em casa a descansar depois do dia de trabalho e então como apaixonada que sou ligo o telemóvel à busca de um sorriso, por mais pequeno que seja, só preciso disso. Ao ler as mensagens dele, todas elas cheias de amor e carinho (já) não me arranca um único sorriso aliás, sou ameaçada por lágrimas a querer saltar fora, porque chega a um ponto em que palavras não chegam para o amor vencer, falta tudo o resto.
Devia sentir-me mal agradecida ou algo do género mas ao invés disso chego a pensar que eu (já) não sou suficiente, eu não "peço" por pedir mas sim porque sinto falta, porque um dia já tive tal.

Olho à minha volta e tento desfrutar o dia que havia sido planeado por mim desde o inicio do mês e está tudo a ser como devia de ser, muito calor e (só) nós os dois juntos e ao ver tudo com olhos de ver, vejo também que as minhas mãos estão no bolso tal como as dele e de imediato vejo algo de errado, mas ele (já) não vê a distancia que estamos a criar estando a centímetros um do outro.
Sempre confessei o medo que que tinha e tenho, da rotina... O que uma simples e inofensiva rotina pode fazer a uma pessoa, quanto mais a duas.
Estou à procura de motivos para não sentir que (já) não lhe sirvo, para tentar ver qual é o erro disto tudo se não, este... Eu.

Conforme fico mais madura vou percebendo que muitos casais terminam não pela falta de amor mas pela falta do novo e ao mesmo tempo do velho, a ausência das borboletas e da adrenalina do descobrir mais e mais.

Há relações que sobrevivem sem amor e outras que com amor terminam.
Mas eu não quero terminar, não estou pronta para desistir.
Não tivemos tempo nenhum.

26/04/2019

trOpeÇar

Encontro pessoas conhecidas e consigo ouvir comentários curiosos e ao mesmo tempo maldosos sobre o meu regresso, estes últimos anos ofereceram-me lições de vida e maturidade por isso simplesmente ignorei agarrando com mais força o saco do pão.
Sou desajeitada desde que me lembro e asseguro que ainda sou quando o saco do pão me foge das mãos ao tropeçar, não chego a cair, mas ao levantar o olhar peço para o tempo regredir para eu bater com a cabeça no chão e se possível desmaiar e acordar em casa.

O olhar dos meus pesadelos desta vez está bem à minha frente e pela falta de reação dele eu também não sou dos sonhos mais cor-de-rosa que ele tem.
Uma pedra invisível é-me atirada e sou relembrada que tenho de voltar e tento fugir deste precipício onde um dia voei. E como um choque os meus movimentos são novamente parados, é como se o toque dele fosse uma descarga de energia e todo o meu sangue começasse a circular demasiado rápido acordando sentidos que demorei a adormecer.

Um monte de perguntas são mandadas para o ar e tudo que consigo captar são os movimentos dele, a boca dele, os seus dedos a mexer no cabelo, agora mais curto, para aliviar o nervosismo. Não consigo falar, e por momentos parece que o mundo parou e todos estão à espera duma reação minha ou de outra questão.
Ofereço o maior sorriso que posso e ultrapasso-o fingindo nada ter acontecido e isto ser realmente um mau sonho.

Quando a porta se fecha sinto que estou em território seguro, só eu e ele.
Preparo o pão dele adivinhando que ele irá recusar o leite... Farta de esperar por ele, aviso que estou a caminho de lhe desligar a televisão e como se tivesse passado horas, sou novamente apanhada de surpresa.

Eles estão os dois frente a frente e a criança animada diz que o "senhor" tem as covinhas iguais às dele, esquecendo-se dos meus avisos para nunca abrir a porta sem a minha permissão.
O meu instinto é pegar nele e criar a máxima distância entre os dois, mando-o comer e fico novamente sozinha com ele.
Desta vez ouvi com clareza todos os seus pensamentos, do tempo que passou, dos caracóis dele serem iguais aos da criança e ter leves parecenças comigo, ele olha nos meus olhos e espera uma confirmação que ambos sabemos ser desnecessária.

Ele foi teu, mas já não o é. Assim como eu.

Ele tenta e penso ter visto uma tentativa de abraço, o meu reflexo é afastar-me e o olhar dele cai, pede desculpas justificando-se com aquilo que previ ele dizer, diz tudo e mais alguma coisa que tantas noites desejei ouvir agarrada à minha barriga, e sozinha.

O meu filho solta a palavra "pai", fazendo-me congelar, pergunta se é este quem tentávamos visitar no sitio escuro, e traduzindo para linguagem adulta, a prisão.
E com uma ultima troca de olhares ele saiu fazendo o que faz de melhor, decidir por mim.
Grito esquecendo que não estou sozinha e julgo-o, insulto-o por mais uma vez pensar saber o melhor para mim, adivinhou mal ao proibir o meu nome na lista de visitantes, supôs cruelmente que era o certo.

O melhor de mim era e sempre foi ele.
Até tudo mudar e eu vivenciar um amor maior, e esse sim, ser o melhor para mim e por esse motivo mais que válido parti para seis anos depois voltar às mesmas paredes com o meu filho a beijar-me as lágrimas dizendo baixinho que a mãe é feia quando chora.

Há males que vêm por bem, não achas? - recordo-me quando pela primeira vez ouvi a voz dele após ter tropeçado (não) acidentalmente em mim.

E chama-se Santiago.

10/01/2019

CHoquE

Não sei no que joguei para me ter saído tamanha sorte, mas fui extremamente esperto ao fazê-lo.
Nunca precisamos de muito para pôr todos da sala a olhar para nós, muitos risos e muitas historias para contar é o que toda a gente consegue tirar desta noite onde não existe horas.
Observo todos com muito cuidado e calma, sempre gostei de carregar no botão de desligar e apreciar no meu pensamento momentos como estes impossíveis de reviver... 

A minha mão treme e percebo que lhe devem ter contado das boas para ela se contorcer tanto a rir e se esquecer que estamos fora das nossas quatro paredes, não importa com quem estejamos e onde, é importante que ela sinta o meu toque para ela saber que eu sei que ela está ali, comigo. A comida foi num instante tal como o vinho, mas nunca a cumplicidade... Essa nunca apresentará copo vazio.

Sem dar conta a pele dela descola-se da minha e ambos somos levados para assuntos diferentes e para outros lugares da mesa. Depois de novidades contadas e de matar a curiosidade a todos, as vozes vão ficando em segundo plano enquanto olho para ela, e pergunto-me se alguma vez haverá altura que o deixe de fazer... O assunto é novamente mudado mas desta vez toda a gente participa e novamente, fico a observá-la, desta vez sem admirar.
Só para me fazer lembrar o caminho que percorri e com isso, hoje poder dizer que a noite vai ser boa devido a falta de sinais de cansaço, esta mulher é tão intensa que é capaz de estar cansada apenas por ser ela, ou então porque ela é mesmo assim, preguiçosa por si só.

O encontro é levado da melhor forma mas todos temos responsabilidades e devagar a mesa vai ficando vazia, sobrando apenas o necessário para a conversa morrer. 
Finalmente o barulho desapareceu e somos só nós, com ela atenta à sua condução mas ainda assim a cantar e a fazer uns comentários aleatórios acerca desta noite, e pergunto-me, como é que alguém consegue ser tão apaixonante sem sequer se esforçar, ela sabe que não precisa mas ainda assim, hoje foi capaz de se aperaltar não só para ela mas sim para me agradar, foi o que disse quando a vi.

Ainda hoje as horas parecem minutos e é como se o tempo tivesse ciúmes e apressasse as noites em que a tenho só para mim, isto é, eu iria perceber se fosse esse o caso.
Depois do suor desaparecer dando lugar ao frio e cansaço ela aconchega-se em mim, à procura de ninho.
Tal quando nos conhecemos, alguém congelado e frígido no olhar mas no entanto à procura duma fonte de calor que não lhe desse mais tarde um choque térmico.

Ela acabou por ser isso para mim, um choque. Os meus olhos não escondiam que eu a queria, mas ela querer-me a mim também? Fui um filho da mãe que esperou e alcançou e agora não quer abrir mão disto, de a poder observar a lutar contra ela mesma para não adormecer só para me poder ouvir. 

06/09

30/11/2018

EScorrEGAr

Amarro o cabelo, pego num copo fundo e vou ao sitio do costume buscar o habitual.
O sabor já não me incomoda ao contrário do cheiro, muitas coisas deixaram de realmente me incomodar, é como se fosse perdendo as peças que sou, uma por uma e lentamente.

O copo rapidamente vai perdendo os tons avermelhados dando a lugar a algo neutro e vazio... Tal e qual como o meu reflexo.
Para prolongar o fundo da garrafa vou à procura de algo mudado nestas quatro paredes nem que fosse algo fora do sitio, uma mancha ou até mesmo uns cacos que insisto em pisar, apenas pela garantia de que ainda sinto.

Sinto-me a ser sugada por uma corrente mais forte que os meus pensamentos bons, sinto a antiga sensação de submissão a tudo que perdi controlo. Encontro-me presa a uma âncora onde eu mesma dei o nó, e que constantemente acrescento mais um de cada vez que sou fraca e me deixo ir... Ir, para um sítio conhecido onde muitos se escondem e já lá estive e sinto que é como rever um antigo amigo.
Não daqueles que nos dão dor de barriga de rir mas sim daqueles que dói cá dentro a confiança um dia traída, e tal como a eles, nunca mais pensei ter essa visão.

Mas a realidade é esta, perdi-me e já não tinha portas onde bater, e o que fiz foi voltar atrás para me encontrar mas aqui fiquei, entalada sem que ninguém veja e que, nem eu mesma saiba a dimensão do buraco em que estou e da caixa onde preferi entrar.

Dei voz à ansiedade que em mim havia adormecido, que um dia derrotei e que agora como se tivesse ficado maior ecoa cá dentro, grita bem alto e controla-me, tal como uma marioneta.
E não gosto, quem comandava e recebia os aplausos era eu e fui afastada do meu próprio espetáculo, e o pior é que foi por justa causa.

O copo já está vazio tal e qual como a garrafa, e consigo comparar a rapidez que foi tal fenómeno ao meu, em que me segurei até onde não era cauteloso só para não cair e chatear, mas no entanto, escorreguei.

E caí no esquecimento tal como as ultimas gotas da garrafa que supostamente já estava vazia.
Supostamente.
Mas não.
Ainda estava lá eu.