13/06/2018

NUs

E quem somos nós quando tudo nos é tirado, quando ficamos completamente nus perante o mundo sem qualquer proteção e expostos a qualquer julgamento?
Somos apenas nós e um objeto destruidor que tem mais poder do que queremos, mais valor do que aquilo que ouvimos.

Um espelho.

E são sortudos quem consegue ver apenas o exterior refletido, quem consegue não ver as cicatrizes interiores e exteriores a preencherem o espelho, a borrar tudo. Fico contente por quem se vê ao espelho e consegue sorrir de satisfação pelo corpo que transporta e pela personalidade que dá a conhecer ao mundo, a marca que está a semear e a regar.
Olhar para o grande buraco á nossa beira e reconsiderar entrar no ciclo que era depositar todos os alimentos ao fim do dia já não é mais uma opção, não depois de desmoronar e levar tudo e todos atrás.
Não sei quando dei a permissão aos espelhos, ou quando lhes dei um altifalante, nem quando comecei a controlar o espaço ocupado no prato mas sei que não queria, também sei que gostava de ser confiante, bonita e forte para olhar e não ouvir, apenas olhar e acreditar nas opiniões.

Quem somos nós quando tudo nos é tirado, quando ficamos completamente nus perante o mundo?
Quando nos tiram o dinheiro, as bebidas misturadas com o fumo, os carros, os amigos, o amor duma família, quem seremos realmente nós? Iríamos conseguir andar ou perceber que afinal os nossos movimentos eram alimentados por alguns destes elementos constantemente desvalorizados?

Não quero ser consertada porque não estou partida, estou avariada. 

Pergunto-me quantas pessoas no escuro da mente e na paz do dia, se lembram disto, se lembram acerca do que são e porque o são.
Gostava de saber se para toda gente os espelhos são um problema... Ou se não precisam de tal para reconhecer a pintura pintada que são, na tela que é o mundo hoje em dia.

E gostava de poder pedir desculpa, mas desculpa é usado tantas vezes e quando é usado honestamente, é para o erro não se repetir. E por isso mesmo não posso, porque quando chego ao desejado, olho, e crio um novo desejo.

E assim vou sendo, exigir do que já foi exigido, exigir o que ninguém compreende.

Não importa como sejamos, ou o que fazemos no silêncio da noite, importa a forma como nós nos vemos sem filtros, e sem espelhos. Importa o que fazemos, para quem fazemos e sobretudo porque o fazemos, interessa porque roupa todos nós podemos usar, todos nós podemos criar o corpo de sonho mas por mais cliché que poderá ser, o interior não é comprado nem falso.

O meu corpo podem destruir, a minha alma pintar, mas eu vou ser sempre eu.

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