12/07/2018

EScOlher

E é nestes momentos que uma pedra imaginária nos bate na cabeça e parámos para pensar na caminhada que tivemos que fazer para este momento.
Daqui a umas horas tenho uma decisão importante e o que era certo virou dúvida e sinto-me um miúdo a decidir o que vestir no dia seguinte. Mas isto não se trata de um decisão que pode ser reversível, é o meu futuro e não só.
Sempre analisei as situações da melhor forma e por isso sou tão bem sucedido, mas desta vez não consigo pesar o bom e o mau, não quero que isto acabe e fique sozinho numa vida que garantias não existem e que não me consiga garantir a presença daquela mulher na minha vida, não com isto... Olho pela janela e só consigo pensar nas tardes solarengas que ali passamos, as aventuras e a adrenalina de ser jovem e sem preocupações, os seus olhos param nos meus e penso desviar-me mas é tarde demais, ela apanhou-me, como sempre.
E sorrio, porque se não fosse com o seu mau feitio a apanhar-me naquela tarde onde tinha estado o propósito destes anos todos? Fui feliz e amei.
Consigo sentir os olhares todos em mim e começo a sentir nervosismo por a altura de escolher estar a chegar, olho para trás e não tenho quem prometeu estar, mas sei que ela terá a sua garantia bem atrás de si, a sua irmã disfarçada de madrinha.
A música começa e fico hirto, não me mexo e creio que nem respiro... Ela olha para mim e desvia o olhar como se estivesse insegura do que trás vestido, como se de repente desde a noite desgastante de ontem ela tivesse perdido o encanto. Os meus olhos nem conseguem contar quantos passos ela precisa de dar até mim, mas sei que chegou pelo seu toque frio, e com isto sei que não sou o único nervoso neste altar.
O homem responsável por este espaço começa a divagar conforme eu já sabia, e sinto os olhos dela em mim e paro novamente para pensar se é isto que quero realmente fazer, se a felicidade que ela me deu é o suficiente para garantir isto, e vacilo. Começo a reconsiderar se a vida de casado é para mim ou para a minha vida agitada, pensei ter tudo controlado quando agora olho à minha volta e me pergunto porque estou aqui, perguntas que quero apagar mas ainda assim responder e num momento de confusão ela agarra-me e a sua voz não treme fugindo um pouco ao combinado mas com ela nada é certo e sinto-me fora do sítio, o fato de repente fica apertado e é como se os meus pensamentos não fossem algo válido e forte, ela olha-me com atenção e não consigo, não consigo mais.
Cada passo que dou ouço o meu nome e guardo o som vindo dela, o último que provavelmente irei ouvir.
Estou a viajar há umas belas horas e sinto-me definitivamente perdido sem ela, e devagar conforme as árvores passam por mim vou acreditando que isto será o início de uma caminhada, sozinho. E não preciso ver muito mais do que tenho a percorrer para ver que qualquer direção irá gritar arrependimento.

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