14/05/2018

DOis trAçOs

Apetece-me dançar e demonstrar a minha  alegria a todo o mundo por ter conseguido a troca de turno.
Sinto que hoje nem a confusão habitual do metro me vai chatear, tenho os ingredientes todos para uma ótima noite de surpresas... Procuro na minha carteira para ter, pela milésima vez, certeza do que trazia, contínuo a andar e acho que qualquer pessoa consegue ver a minha felicidade, ou se calhar estou só a dramatizar e sou mais um pontinho aqui no meio de tantos outros.

O caminho para casa parece ter aumentado e só aí reparo que estou mesmo nervosa e a cada passo que dou aumenta o nível de nervosismo mas sobretudo de amor.
Passo pela nossa pastelaria preferida e peço o bolo já antes escolhido e penso que isto vai ser só um meio para eu atingir o meu principal fim desta noite.

Eu chego a casa e o silencio recebe-me e nunca gostei tanto dos horários dele, isso vai dar-me vantagem e tempo, detesto pressão mas também detesto ter tempo a mais. 
Uma mexida ali e outra remexida acolá, os minutos parecem estar do meu lado e quando começo a cozinhar tenho tudo perfeitamente cronometrado e planeado e nem a vizinha chata de cima me vai estragar isto hoje, ligo a aparelhagem e ponho em volume baixo para conseguir acalmar as batidas do meu coração, meu Deus, sinto que vou vomitar com tanto entusiasmo e controlo-me, isso nao vai ser bom nem para a noite nem para a ocasião em si.
Quando vejo que o meu cozinhado correu bem percebo que hoje é mesmo um dia especial, quer dizer, nem cru nem queimado?? O destino está a dizer-me que estou a ir bem.

Sento-me na mesa já perfeitamente decorada e olho para o relógio e em seguida para o espelho, e chego à bonita conclusão que cabelo despenteado e roupa a cheirar mal não é o perfeito conjunto, pelo menos não para hoje e dando uma última olhada no cenário vou ao nosso quarto, não me lembro de fechar a porta. 
Entro e está tudo escuro, a minha mente percorre a minha manhã e tenho quase certeza de ter deixado a tudo aberto mas com o meu nervosismo e fome já não me lembro com clareza.

Vejo a luz da noite entrar pelo quarto e juntamente com isso veio algo mais, algo como um soco no estômago, como uma moeda de cinquenta a cair sobre a mesa, era ele mas não era só.
Abanei a cabeça com a probabilidade do meu cansaço me estar a pregar partidas mas não, aquilo estava bem ali... Ele com uma que não era eu. 
Quis gritar, até mesmo bater em ambos e até em mim mas nada saiu, senti que se falasse o meu almoço fosse sair cá para fora, tapei a boca com a maior força que adquiri e engoli o choro juntamente com todos os insultos que ele merecia. Trouxe a caixa improvisada para parecer um verdadeiro presente e deixei na mesa de cabeceira do meu lado, ou do que costumava ser o meu lado, quando ele olhasse para ela ia ver quanto tempo, literalmente, tinha adormecido
Olho novamente para o pequeno objeto e para os dois traços desenhados, e sinto embora que impossível, o pequeno ser que carrego desaparecer consoante as promessas feitas neste mesmo espaço. 
Caminho como uma derrotada até à cozinha e desligo tudo, pronto para quando eles acordarem e pensarem que ainda podem ir sem eu ver.
Olho á volta e toco na minha barriga, de três voltamos para dois novamente e sinto-o, sinto como uma avalanche a cair-me em cima e não tenho onde me agarrar para não ir com a corrente e é aí que sinto, como dizem? Um pontapé, e isso foi mais que suficiente para me levantar e bater com a porta com força suficiente para fazê-los acordar.

O meu lado racional é ligado e começo a ver onde poderei ter errado, onde falhei quando ele precisou e chego á conclusão enquanto ando á toa que isto não foi descuido meu, foi escolha dele e eu vou fazer a minha, trazer á vida uma prova da minha felicidade mais duradoura.


Sem comentários:

Enviar um comentário