30/11/2018

EScorrEGAr

Amarro o cabelo, pego num copo fundo e vou ao sitio do costume buscar o habitual.
O sabor já não me incomoda ao contrário do cheiro, muitas coisas deixaram de realmente me incomodar, é como se fosse perdendo as peças que sou, uma por uma e lentamente.

O copo rapidamente vai perdendo os tons avermelhados dando a lugar a algo neutro e vazio... Tal e qual como o meu reflexo.
Para prolongar o fundo da garrafa vou à procura de algo mudado nestas quatro paredes nem que fosse algo fora do sitio, uma mancha ou até mesmo uns cacos que insisto em pisar, apenas pela garantia de que ainda sinto.

Sinto-me a ser sugada por uma corrente mais forte que os meus pensamentos bons, sinto a antiga sensação de submissão a tudo que perdi controlo. Encontro-me presa a uma âncora onde eu mesma dei o nó, e que constantemente acrescento mais um de cada vez que sou fraca e me deixo ir... Ir, para um sítio conhecido onde muitos se escondem e já lá estive e sinto que é como rever um antigo amigo.
Não daqueles que nos dão dor de barriga de rir mas sim daqueles que dói cá dentro a confiança um dia traída, e tal como a eles, nunca mais pensei ter essa visão.

Mas a realidade é esta, perdi-me e já não tinha portas onde bater, e o que fiz foi voltar atrás para me encontrar mas aqui fiquei, entalada sem que ninguém veja e que, nem eu mesma saiba a dimensão do buraco em que estou e da caixa onde preferi entrar.

Dei voz à ansiedade que em mim havia adormecido, que um dia derrotei e que agora como se tivesse ficado maior ecoa cá dentro, grita bem alto e controla-me, tal como uma marioneta.
E não gosto, quem comandava e recebia os aplausos era eu e fui afastada do meu próprio espetáculo, e o pior é que foi por justa causa.

O copo já está vazio tal e qual como a garrafa, e consigo comparar a rapidez que foi tal fenómeno ao meu, em que me segurei até onde não era cauteloso só para não cair e chatear, mas no entanto, escorreguei.

E caí no esquecimento tal como as ultimas gotas da garrafa que supostamente já estava vazia.
Supostamente.
Mas não.
Ainda estava lá eu.

30/09/2018

pAz

“ Chego a casa depois dum dia cheio de confusão e barulho deparando-me com o meu sossego e quando o olho, deparo-me com a minha paz.
Ele está sentado a ver qualquer coisa no telemóvel e está concentrado, pois consigo ver isso na maneira como enruga a sua testa.
Deixo-me ficar ali na porta enquanto o nosso companheiro de quatro patas me cumprimenta embora o outro dono ainda não tenha dado pela minha presença, e aprecio aquele homem com quem me deito todos os dias e acordo a entender que tomei a decisão certa em não desistir.
Finalmente vejo os seus olhos e rapidamente o cansaço desaparece deles dando lugar à felicidade de me ver em casa, a preocupação em como o dia correu e se quero ir jantar fora faz-me sentir a explodir com o sentimento de realizada, de estar finalmente satisfeita, feliz.
As horas passam e os lençóis apenas ficam frios conforme os nossos corpos perdem o suor e a temperatura quente, olho para cima e já o vejo de olhos fechados e com os meus de igual modo revivo a nossa jornada, as barreiras nelas postas, os não's que dissemos um ao outro.. Tudo isso faz parte de mim e dele, e de tantos nós que fizemos e desfizemos formamos este belo laço.
Levanto-me com cuidado para não o tirar do seu descanso e procuro o número do restaurante que entrega em casa e peço o seu favorito quando ao mesmo tempo abro o frigorífico e vejo a sobremesa que mais gosto, jamais irá existir alguém que nos conheça tão bem quanto nós nos conhecemos e penso que seja isso que mostre que encaixamos.
O amor não é fácil de se conquistar, muito menos de se manter mas a maneira como nós nunca deixamos algo tornar-se aborrecido e repetitivo, a maneira como atiçamos a chama faz querer sempre mais e mais como se fosse realmente um vício.
Não poderá haver nada mais reconfortante do que a visão de estarmos os dois sentados nos balcões da cozinha com a pouca roupa que nos cobre, a comer e a conversar sobre o jogo de futebol a decorrer.
Ele é o homem mais lindo que vi, que senti.. É o homem que mais me desperta, é o homem que independentemente de qualquer coisa irá ser meu amante e meu melhor amigo, que quis o meu coração e acabou por levar a minha alma também.
Não há dia cansativo que me deixe cansada dele. „


06/09

12/09/2018

olHOs

As minhas pernas já não são o que eram, tal como a minha memória e então pela segunda vez este mês vou ao sitio mais poderoso que esta casa possui, onde todas as memórias estão guardadas para que em dias como estes me ajudem.
A quantidade de escadas que preciso de subir parecem aumentar à medida que os anos passam, a força pode diminuir mas nunca desaparecer. 

Uma coisa tão simples como este pequeno pedaço de madeira consegue carregar toda a minha vida, e torna-se cada vez mais difícil de fecha-la e regressar ao mundo real, mas eu tenho vindo a conseguir, graças a ele, como sempre.
Existem fotografias a preto e branco que retratam os anos e as memórias mais coloridas que oferecíamos a cada um, sem esperar nada mais nada menos que a reciprocidade fosse o centro do nosso mundo. Vou trocando o olhar em muitas outras fotografias, algumas a começar a apresentar cores e outros rostos, novos capítulos que quisemos escrever juntos.

Nunca pensei no rumo da minha vida, muito menos imaginar mas eu mesma afirmei "impossível" este desfecho. Mas aqui estou eu, sem a roupa cara, a maquilhagem boa e a postura, agarrada a algo que me foi arrancado dos braços quando, apesar dos anos, ainda havia tanto para viver e fotografar. Tantos olhos presentes na nossa casa mas por mais que tentem, nunca saberão tanto como as paredes que a sustentam, olhares que não olham realmente para mim.
Toda eu sou saudade e há dias que grito interiormente aos sete ventos a dizer que não aguento sentir mais a falta dele, que não suporto saber que jamais serei amada por umas mãos daquelas, e por um sorriso daquele.

Mas tenho os meus grandes e pequenos seres e vejo que têm tanto daquele homem neles que merecem ser embalados por histórias dele, e acreditar que o bom nem sempre vem à primeira nem à segunda mas vem, se assim o quisermos, se realmente desejarmos.
Em tardes felizes e aleatórias, sempre dissemos que este lugar que ocupo seria o dele pois juízo nunca constava no meu dicionário, dizia ele.

Está na hora de ir, abrir o pano e continuar o espetáculo que tanto queríamos e mesmo que seja difícil continuar, ás vezes temos que pensar em algo que não nós, algo maior.

E vou indo, lembrando-me dele ali e acolá e ser a mulher que sempre fui, amada e com amor para dar, apenas com um pouco de rugas.


Para a minha neta Lara, que ela saiba sempre que sem qualquer tipo de amor somos uma história monocromática. 

10/08/2018

mIúDa

Não escrevo para ser bonito, o que tem bonito tu teres-me feito sonhar e depois acordar-me com um balde de agua fria? 

Somos constantemente peões na vida das pessoas em que pouco ou muito lhes damos poder de fazer connosco o que quiserem. Eu fui o teu, e não consigo afirmar que tenhas sido o meu. Cada dia aprendo a viver sem ti, cada dia é mais um dia sem ti mesmo que às vezes ainda te sinta á minha beira a comentar qualquer coisa para quebrar o silêncio, não gostávamos de oferecer tal quando tínhamos demasiado para se fazer ouvir.

O tempo só estende o braço a quem quer. A quem permanece acorrentado consegue fazer a vida negra e usar qualquer motivo para dar uma dose de memórias indesejadas, não irá ajudar.
Quando tiramos os joelhos do chão e levantamos a cabeça o tempo já não é tão assustador e longo, aproveitamos qualquer lição que este dê para chegar á meta.
Como fiquei eu com tudo, não houve divisão para isto? Como é que os comprimidos foram todos para mim, porque razão as noites só eram escuras e barulhentas para uma das camas?

E com tanto tempo, não sei o que achar, não sei se foste tu o culpado de teres ido ou se realmente a vida te tirou de mim, mas se foi esse o caso, a vida que se encarregue de te dar algo tão bom porque tenho vindo a perceber que quem perdeu mais aqui, não fui eu.
Deixaste o impossível feito, não existe rezas, pedidos a um poder Divino para voltares, tu foste e nem olhaste uma última vez para mim, foste confiante.
O doloroso foi, ainda assim eu querer percorrer o caminho contigo, insuportável! Cada passo que dava para acompanhar-te era um caco a cravar-se criando sangue, já não aguentava a indiferença da tua carne a pisar o meu interior.

Tu não paraste, nem dificuldade houve em continuar a tua vida, jamais te voltaste a lembrar das manhas enroscados, das tardes mal contadas e das noites compridas. Quando pensares que não tens nada nem ninguém, lembra-te do que um dia arruínas-te e nunca devolveste, irás ter a certeza que já nem a mim me tens, ambos morremos com uma arma apontada á espera que o outro tivesse recuado primeiro.
Está a doer, perdi demasiadas pessoas numa só para conseguir tapar os buracos, escrever-te, consegue lentamente preencher as aberturas que deixaste.
Ficar bêbada de amor é perigoso e bom ao nível de não querer saber de maneira alguma da ressaca que se segue, e foi isso mesmo, arrisquei e até fomos um golpe de sorte mas tu largaste no momento que decidi amarrar-te e que dor de cabeça foste.

Tudo termina quando amor já não é o suficiente e lamento teres precisado de mais, um mais que não me incluía de maneira alguma.

Lembro-me de ti, nada como há meses atrás nem como ontem e sei que nem como amanha.

Não existem alturas certas para o adeus, só gostava de não ter estado tão alto quando me empurraste mas sem ressentimentos, hoje em dia consigo ver-te aqui de cima.
A saudade desapareceu para dar lugar a algo maior... A falta e essa, jamais é preenchida.


Com sorrisos e cicatrizes, 
a Miúda que quis dar-te o mundo.


26/07/2018

ULtiMa a saBEr

Não sei o que se passou, sei que doeu mais que qualquer ferida nos meus joelhos e quero chorar porque a minha mãe pergunta o que dói e não vejo sangue, não vejo arranhões, só dói. Berro, e berro ainda mais quando ela diz o nome dele, nunca nenhuma queda de bicicleta me tinha magoado tanto.

Era eu e ele, para sempre, prontos para conquistar o mundo e todos os filmes de terror proibidos. O que posso fazer?

É estranho como no silêncio da noite ainda vem este episódio á minha memória passado tantos anos... Sempre fui dizendo adeus a amizades por poucas e muitas razões, no entanto a que ainda, me faz companhia é esta, tal e qual como se tivesse sido ontem...

Uma tarde perfeita para dois miúdos cantarem e rirem, dois miúdos doidos um pelo outro num dia só deles. Tudo foi muito rápido, eu acho, embora na altura tivesse sentido tudo em câmara lenta, os braços da minha mãe levarem-me daquela casa e não ver ninguém a acenar-me, na verdade, não ver absolutamente nada devido á janela de lágrimas que lavava tudo ali vivido.
Queria falar mas o meu choro tomava conta de todos os meus pensamentos, de todas as possíveis tentativas de falar e perguntar.
As horas passavam, os pedidos para meter algo á boca eram imensos e as perguntas a assassinar qualquer coisa presente na minha cabeça, onde estava ele?

E é quando eu desisto e me alimentam, que me contam devagar como se fosse uma história de encantar que ele se tinha ido e não voltava nem para levar os brinquedos ali deixados. Um sentimento novo apareceu, demasiado grande para eu parar e pensar, parti as primeiras coisas que me surgiram á frente, berrei a todos o quão mentira isso era e que era feio estarem a mentir! Ele nunca me mentiria.
Dias passaram, lembro-me de organizar os brinquedos, os meus e os dele para não haver tempo a perder, eu queria brincar com o meu melhor amigo mal ele chegasse.

É… ele nunca mais voltou, guardei os brinquedos e tirei o banco de junto da janela, não queria ver mais. Não sei quão triste e ao mesmo tempo melancólico isto é, mas ainda hoje sou capaz de espreitar para este dia e sentir exatamente o mesmo, desamparada e sozinha. Mais calma, explicaram-me que ele tinha mudado de cidade, que toda a família se preparava para isso, incluindo a minha!


Menos eu, eu fui a última a saber do fim.


12/07/2018

EScOlher

E é nestes momentos que uma pedra imaginária nos bate na cabeça e parámos para pensar na caminhada que tivemos que fazer para este momento.
Daqui a umas horas tenho uma decisão importante e o que era certo virou dúvida e sinto-me um miúdo a decidir o que vestir no dia seguinte. Mas isto não se trata de um decisão que pode ser reversível, é o meu futuro e não só.
Sempre analisei as situações da melhor forma e por isso sou tão bem sucedido, mas desta vez não consigo pesar o bom e o mau, não quero que isto acabe e fique sozinho numa vida que garantias não existem e que não me consiga garantir a presença daquela mulher na minha vida, não com isto... Olho pela janela e só consigo pensar nas tardes solarengas que ali passamos, as aventuras e a adrenalina de ser jovem e sem preocupações, os seus olhos param nos meus e penso desviar-me mas é tarde demais, ela apanhou-me, como sempre.
E sorrio, porque se não fosse com o seu mau feitio a apanhar-me naquela tarde onde tinha estado o propósito destes anos todos? Fui feliz e amei.
Consigo sentir os olhares todos em mim e começo a sentir nervosismo por a altura de escolher estar a chegar, olho para trás e não tenho quem prometeu estar, mas sei que ela terá a sua garantia bem atrás de si, a sua irmã disfarçada de madrinha.
A música começa e fico hirto, não me mexo e creio que nem respiro... Ela olha para mim e desvia o olhar como se estivesse insegura do que trás vestido, como se de repente desde a noite desgastante de ontem ela tivesse perdido o encanto. Os meus olhos nem conseguem contar quantos passos ela precisa de dar até mim, mas sei que chegou pelo seu toque frio, e com isto sei que não sou o único nervoso neste altar.
O homem responsável por este espaço começa a divagar conforme eu já sabia, e sinto os olhos dela em mim e paro novamente para pensar se é isto que quero realmente fazer, se a felicidade que ela me deu é o suficiente para garantir isto, e vacilo. Começo a reconsiderar se a vida de casado é para mim ou para a minha vida agitada, pensei ter tudo controlado quando agora olho à minha volta e me pergunto porque estou aqui, perguntas que quero apagar mas ainda assim responder e num momento de confusão ela agarra-me e a sua voz não treme fugindo um pouco ao combinado mas com ela nada é certo e sinto-me fora do sítio, o fato de repente fica apertado e é como se os meus pensamentos não fossem algo válido e forte, ela olha-me com atenção e não consigo, não consigo mais.
Cada passo que dou ouço o meu nome e guardo o som vindo dela, o último que provavelmente irei ouvir.
Estou a viajar há umas belas horas e sinto-me definitivamente perdido sem ela, e devagar conforme as árvores passam por mim vou acreditando que isto será o início de uma caminhada, sozinho. E não preciso ver muito mais do que tenho a percorrer para ver que qualquer direção irá gritar arrependimento.

13/06/2018

NUs

E quem somos nós quando tudo nos é tirado, quando ficamos completamente nus perante o mundo sem qualquer proteção e expostos a qualquer julgamento?
Somos apenas nós e um objeto destruidor que tem mais poder do que queremos, mais valor do que aquilo que ouvimos.

Um espelho.

E são sortudos quem consegue ver apenas o exterior refletido, quem consegue não ver as cicatrizes interiores e exteriores a preencherem o espelho, a borrar tudo. Fico contente por quem se vê ao espelho e consegue sorrir de satisfação pelo corpo que transporta e pela personalidade que dá a conhecer ao mundo, a marca que está a semear e a regar.
Olhar para o grande buraco á nossa beira e reconsiderar entrar no ciclo que era depositar todos os alimentos ao fim do dia já não é mais uma opção, não depois de desmoronar e levar tudo e todos atrás.
Não sei quando dei a permissão aos espelhos, ou quando lhes dei um altifalante, nem quando comecei a controlar o espaço ocupado no prato mas sei que não queria, também sei que gostava de ser confiante, bonita e forte para olhar e não ouvir, apenas olhar e acreditar nas opiniões.

Quem somos nós quando tudo nos é tirado, quando ficamos completamente nus perante o mundo?
Quando nos tiram o dinheiro, as bebidas misturadas com o fumo, os carros, os amigos, o amor duma família, quem seremos realmente nós? Iríamos conseguir andar ou perceber que afinal os nossos movimentos eram alimentados por alguns destes elementos constantemente desvalorizados?

Não quero ser consertada porque não estou partida, estou avariada. 

Pergunto-me quantas pessoas no escuro da mente e na paz do dia, se lembram disto, se lembram acerca do que são e porque o são.
Gostava de saber se para toda gente os espelhos são um problema... Ou se não precisam de tal para reconhecer a pintura pintada que são, na tela que é o mundo hoje em dia.

E gostava de poder pedir desculpa, mas desculpa é usado tantas vezes e quando é usado honestamente, é para o erro não se repetir. E por isso mesmo não posso, porque quando chego ao desejado, olho, e crio um novo desejo.

E assim vou sendo, exigir do que já foi exigido, exigir o que ninguém compreende.

Não importa como sejamos, ou o que fazemos no silêncio da noite, importa a forma como nós nos vemos sem filtros, e sem espelhos. Importa o que fazemos, para quem fazemos e sobretudo porque o fazemos, interessa porque roupa todos nós podemos usar, todos nós podemos criar o corpo de sonho mas por mais cliché que poderá ser, o interior não é comprado nem falso.

O meu corpo podem destruir, a minha alma pintar, mas eu vou ser sempre eu.

05/06/2018

AdreNaLinA

Não é irónico as diferentes realidades que vamos ganhando conforme a vida nos passa entre os dedos?
É triste e revolucionário o quanto nós aprendemos a desconfiar de uma ação ou duma palavra, o quanto nós pensamos no bem e no mal que aquela pessoa nos pode fazer mas se for de nosso agrado o mal parece pequeno ao que nós realmente queremos, o bom que posso fazer sentir e sentir.
E atiramo-nos sem olhar para a altura que vai ganhando se algo correr mal, nem sequer garantimos que existe algo ou alguém a amparar a queda, porque tudo que podemos fazer é viver os momentos sem pensar "e se?". E será que isso não consegue ser o maior erro do ser humano? Confiar mesmo depois de todas as quedas dadas, dar uma nova oportunidade a si mesmo e a alguém de fazer ver que o que se viveu não volta a repetir, não é ilusão nossa pensar que daquela vez valerá a pena os momentos no escuro da nossa mente a procurar o erro cometido para o fim ser daquela forma?

Montes de questões que não sei responder e não encontro alguém capaz de explicar, na verdade estamos sempre presos na idades dos porquês.

Mas e então, e se não fosse erro nenhum mas sim uma prova de coragem? Uma maneira de demonstrar que mesmo tremendo somos capazes de caminhar, mesmo que em segredo esteja a pergunta a navegar "quem será o primeiro a dizer adeus?", conseguimos olhar para a frente e devagarinho desenhar o caminho para sair daquelas duvidas, incertezas e medos.

Mesmo com estas decisões cheias de coragem, nada parece o suficiente e sempre que algo corre mal bem no fundo a culpa cai sempre sobre os nossos próprios ombros, porque quem ficou, novamente, fomos nós e a pessoa que virou costas foi só mais uma que desejamos não ter visto esse lado delas. Quantas e quantas vezes estávamos tão alto que quando foi anunciada a queda nós próprios nem sabíamos a que altura estavámos.
O pior é este mesmo, as desilusões, os corações partidos e confianças quebradas que nunca vêm dos inimigos mas sim das pessoas a quem demos arma para fazer tal estrago, tudo vai cair em cima de nós e abalar a nossa confiança e amor próprio porque no fim pusemos uma arma bem apontada á nossa cabeça e fazemos figas que a pessoa a segure, mas não a use e bem no momento que estamos a fechar os olhos, a aproveitar realmente a viagem algo nos faz estremecer, e a pessoa que sempre nos amparou acabou de trocar de papel, e foi ela que nos fez cair e esperar uns braços que não os mesmos.

E a seguir a isso é uma grande incógnita no que fazer e pensar, porque afinal o que antes era descabido pensar e desconfiar era o certo a fazer mas fomos corajosos o suficiente para sentir a adrenalina de poder cair, mas quando caímos a nossa coragem não nos vale de nada.


14/05/2018

DOis trAçOs

Apetece-me dançar e demonstrar a minha  alegria a todo o mundo por ter conseguido a troca de turno.
Sinto que hoje nem a confusão habitual do metro me vai chatear, tenho os ingredientes todos para uma ótima noite de surpresas... Procuro na minha carteira para ter, pela milésima vez, certeza do que trazia, contínuo a andar e acho que qualquer pessoa consegue ver a minha felicidade, ou se calhar estou só a dramatizar e sou mais um pontinho aqui no meio de tantos outros.

O caminho para casa parece ter aumentado e só aí reparo que estou mesmo nervosa e a cada passo que dou aumenta o nível de nervosismo mas sobretudo de amor.
Passo pela nossa pastelaria preferida e peço o bolo já antes escolhido e penso que isto vai ser só um meio para eu atingir o meu principal fim desta noite.

Eu chego a casa e o silencio recebe-me e nunca gostei tanto dos horários dele, isso vai dar-me vantagem e tempo, detesto pressão mas também detesto ter tempo a mais. 
Uma mexida ali e outra remexida acolá, os minutos parecem estar do meu lado e quando começo a cozinhar tenho tudo perfeitamente cronometrado e planeado e nem a vizinha chata de cima me vai estragar isto hoje, ligo a aparelhagem e ponho em volume baixo para conseguir acalmar as batidas do meu coração, meu Deus, sinto que vou vomitar com tanto entusiasmo e controlo-me, isso nao vai ser bom nem para a noite nem para a ocasião em si.
Quando vejo que o meu cozinhado correu bem percebo que hoje é mesmo um dia especial, quer dizer, nem cru nem queimado?? O destino está a dizer-me que estou a ir bem.

Sento-me na mesa já perfeitamente decorada e olho para o relógio e em seguida para o espelho, e chego à bonita conclusão que cabelo despenteado e roupa a cheirar mal não é o perfeito conjunto, pelo menos não para hoje e dando uma última olhada no cenário vou ao nosso quarto, não me lembro de fechar a porta. 
Entro e está tudo escuro, a minha mente percorre a minha manhã e tenho quase certeza de ter deixado a tudo aberto mas com o meu nervosismo e fome já não me lembro com clareza.

Vejo a luz da noite entrar pelo quarto e juntamente com isso veio algo mais, algo como um soco no estômago, como uma moeda de cinquenta a cair sobre a mesa, era ele mas não era só.
Abanei a cabeça com a probabilidade do meu cansaço me estar a pregar partidas mas não, aquilo estava bem ali... Ele com uma que não era eu. 
Quis gritar, até mesmo bater em ambos e até em mim mas nada saiu, senti que se falasse o meu almoço fosse sair cá para fora, tapei a boca com a maior força que adquiri e engoli o choro juntamente com todos os insultos que ele merecia. Trouxe a caixa improvisada para parecer um verdadeiro presente e deixei na mesa de cabeceira do meu lado, ou do que costumava ser o meu lado, quando ele olhasse para ela ia ver quanto tempo, literalmente, tinha adormecido
Olho novamente para o pequeno objeto e para os dois traços desenhados, e sinto embora que impossível, o pequeno ser que carrego desaparecer consoante as promessas feitas neste mesmo espaço. 
Caminho como uma derrotada até à cozinha e desligo tudo, pronto para quando eles acordarem e pensarem que ainda podem ir sem eu ver.
Olho á volta e toco na minha barriga, de três voltamos para dois novamente e sinto-o, sinto como uma avalanche a cair-me em cima e não tenho onde me agarrar para não ir com a corrente e é aí que sinto, como dizem? Um pontapé, e isso foi mais que suficiente para me levantar e bater com a porta com força suficiente para fazê-los acordar.

O meu lado racional é ligado e começo a ver onde poderei ter errado, onde falhei quando ele precisou e chego á conclusão enquanto ando á toa que isto não foi descuido meu, foi escolha dele e eu vou fazer a minha, trazer á vida uma prova da minha felicidade mais duradoura.


03/05/2018

FLor

Lembrei-me que podia eventualmente estar enganada e fui pesquisar.
Escrevi "amigo" e o que encontrei foi o que mais receei...
"Amigo é o nome que se dá a um indivíduo que mantém um relacionamento de afeto, consideração e respeito por outra pessoa. Amigo é aquela pessoa que se confia acima de qualquer coisa, que está sempre disposto a ajudar, seja em situações boas ou ruins. "
... eu tinha razão, houve tudo menos bondade nas tuas palavras e ações. Falhou tudo que um amigo é, aliás falhamos ao que pensamos vir a ser mas afinal fomos só mais umas básicas que acabamos com a amizade destruída por uma queda em que te recusaste aceitar a mão que te estendi.
Foste em momentos tudo que precisei numa noite complicada, num dia cansativo e mesmo em alturas do mês que as mulheres dizem ser complicadas. Poderíamos ter sido muito, pensei que fossemos realmente para ser mas não, tu provaste isso mesmo.
Uma amizade como a nossa era mesmo de filmes, momentos partilhados e planos agendados quando do nada, tudo se foi juntamente com os laços que cuidadosamente enlaçamos.

Amizades são as flores da vida que, mesmo em caminhos menos coloridos haverá sempre, pelo menos uma flor a mostrar que tudo tem cor e tu foste a flor que muitas vezes precisei para encarar o caminho que tinha que enfrentar. Flores têm que ser cuidadas e tu preferiste não cuidar da tua, e devagarinho essa flor murchou, são escolhas que são irreversíveis.
É tão triste conhecer algo tão bem e pôr todos esses conhecimentos na prateleira do que já nao é preciso misturado com desilusões e traições e tens pena, por teres pensado que essa pessoa jamais se fosse enquadrar nesses padrões.

Mas nem tudo que parece seguro é, ás vezes temos que arrancar o penso para nao doer mais porque agora so o tempo vai ajudar a sarar aquela ferida inesperada.
Ao fim de cada queda era bom saber que a mesma mão estaria ali como da ultima vez e desta vez foi essa mesmo mão que tanto suportou e guardou, que empurrou para o precipício que não estava á vista.
Mas tenho a noção que nem tudo foi mau e é por isso que te escrevo, houve mais momentos bons que maus mas no fim, os maus foram suficientes para no balanço final ver que uma amizade é mais que sorrisos e bebedeiras. Existe um trabalho constante e dedicação para não ir perdendo pétalas da flor que estávamos a criar, e ao contrario das restantes flores que havíamos plantado e perdido a nossa até tinha para dar e vender mas duma só vez, arrancaste-as tal como fizeste contigo.

Arrancaste-te da minha vida, da minha rotina e não te pude replantar novamente e uma coisa eu sei, flores há muitas e se a nossa morreu, outra irá nascer. 

A



26/03/2018

Tenho uma estante cheia de livros que me dá vontade de pegar só pelo seu título, e tenho outros que de tanto pó acumulado mal me lembro que eles estão ali mas a verdade é que estão e que nos fazem espirrar uma vez ou outra.
Mas como por feitiço ou traição o mais antigo saltou para a frente, pronto a cair e obrigar-me a curar a constipação já curada, e com isso, essa fraqueza já desapareceu e mesmo que seja tentador ler os melhores momentos seria horrível menosprezar os maus, e dessa forma acabaria a deixar o livro ocupar-me a mente, mente esta que quando não controlo ainda me trai.

Foste fraco, e irei sempre culpar-te por entregares as luvas quando eu estava pronta para todas as rondas seguintes.

É bom ter um livro tão incrível como este, mas já só é bom quem não sabe o que vai encontrar porque no fim de o ler já nada mais vai ser igual porque venha quem vier, jamais vão ser tão bons a escrever, a apagar e a riscar como fomos.
E nós que já o lemos vezes e vezes sem conta já perdemos a conta na quantidade de vezes que desejamos colocar um ponto invés da vírgula e uma vírgula no fim. Mas foi assim, e assim ficou.

O nosso livro destrói como ensina, e tanto faz amar como odiar. Somos o contrário combinado e gostava que nunca tivessemos combinado ao ponto de gostar de ser o contrário que eu era.

Ainda me assombras, sim ainda tenho o livro, e embora saiba que ele está ali já não o escolho para ser lido, já acabou o tempo de protagonismo, o estrelato terminou e o ainda desapareceu. O ainda gosto de ti, o ainda te quero e o ainda temos tempo ficaram entalados nas folhas soltas do meu livro, não do teu.
Que pena tenho eu que não tenhas a minha versão mas, quando noutro livro fiques com versão parecida não queimes, eu gostava de hoje as ter e te "cegar" com o pó que elas têm, mas já não existem. Foram rapidamente queimadas como escritas tal e qual como nós, e tal como elas nós poderíamos ter feito toda a diferença.

Com a minha memória remexida cheguei à conclusão dos anos que já foram, e das feridas que sararam e que hoje, não passam de feias cicatrizes.

Houve tempos em que ponderei queimar o livro sempre que chegava ao fim, porque baixinho desejava que mudasse daquela vez, mas nunca mudou e com isso, queimar ou não queimar a minha mente iria sempre manter a chama acesa.

Acontece que de tanto a chama tremer e de tanto eu soprar, o livro estar ali presente já só me faz lembrar o incêndio que travei sem precisar de causar um maior, sem usar a ajuda de pequenos pontos brancos para conseguir fechar os olhos à noite.

Não queríamos mas acabaste por ser mais um, mais um que foi, mais um que me preferiu a outra coisa qualquer.
E embora me tivesses amado acabaste a ser na mesma mais um, porque plantaste e não cuidaste e vais ter sempre bem escondido na tua parte mais escura a imagem de um vaso vazio que já decorou a tua vida.

Acho que está na hora de tu veres a derrota que levaste.

Knockout "campeão".

15/03/2018

CoR

Acordo e fico chateada pelo meu sonho ter sido demasiado barulhento, olho lá para fora e vejo que escureceu e fiquei adormecida no meio dos meus livros que ninguém teve coragem de me acordar nem mesmo o meu cão.
Tento adormecer novamente.
Afinal não, afinal o barulho não foi do meu sonho, e quando me preparava para ir ver a origem deste mesmo ouço um berro... paro, congelo e o meu instinto é pegar neste pequeno corpo e voltar para trás, ponho a música no máximo, acalmando o ser irrequieto e ao meu cão também.
A música já não está a abafar nada e apetece-me gritar, gritar para os gritos desaparecem mas nada sai da minha boca, como se o som estivesse silenciado. A minha porta abre com força e vejo preto, vermelho e muita falta de amor. A minha primeira vontade foi agarrar nela para não cair mas se fizesse um gesto qualquer iríamos ser espectadores do mesmo espetáculo de todos os dias, tirando quando o ator não está em cena, santos dias.

As minhas lágrimas já não caem, como se a fonte já tivesse secado.

Ele larga-a e julgo ver a sua desistência e em segundos o principal abandona a casa, os acontecimentos a seguir são rápidos e confusos mas tudo que sei é que enquanto a água do chuveiro lhe tenta limpar alguma coisa nem que seja a alma, eu guardo tudo em mochilas e tento pôr sorte lá para o meio. Procuro a minha caixa e vejo que quem arranjou este, arranja outra vez e meto também para a mochila.
A despedida é algo que imprevisível e tento acalmar e injetar coragem no ser frágil que de brilhante se tornou carvão, ganho coragem e fecho a porta depois de a ver desaparecer na rua e preparo-me para o que poderá vir e assim, ficou tarde demais para fugir.
A chave rodou. Ele entrou. Ele olhou à sua volta. Procurou e não encontrou.
Vejo o meu cão ser chutado para longe e tento esticar o braço até ele e só aí percebo que a minha visão está turva e reduzida e não consigo fazer nada: como sempre.
E sorrio porque desta vez a pintura foi feita noutra tela que não a mesma, estou quente e sinto a minha cabeça explodir e depois de aquecer o lugar no tapete da sala, deixo-me ir para um lugar calmo... Já não ouço berros, nem sinto o meu corpo ser abalado aliás, é como se já não estivesse ali realmente e com um último descarregamento...
Eu desisto.
E desejo sorte à minha mãe para ser pintada novamente com cores que ela realmente mereça.

28/02/2018

sEr

Somos seres humanos que deixamos muito passar ao nosso lado e nem damos conta do facto de um simples hospital ouvir mais rezas que uma igreja, só fraquejamos quando estamos na corda bamba em que manter o equilíbrio já não nos compete a nós. Séries de aeroportos que presenciam partidas com receio do regresso, centenas de lágrimas derramadas num sítio de simples passagem.
Depositamos demasiado no que não devemos e ainda pior em quem não devemos, se as flores morrem porque haveria um relacionamento de prevalecer? Amor não chega para manter a flor de pé, amor infelizmente não é tudo e que egoísta é esta realidade.

Para nós sabermos o que é ganhar temos que perder, para conhecermos o sabor de algo temos que provar, e para tudo que nos faz bem um dia tivemos que estar mal... A vida não pode ser simples, que piada iria ter? Vida que infelizmente termina muitas vezes sem um alerta, um alerta que nos permita cumprir coisas da nossa lista imaginária, que nos deixe dizer o que, um dia, preferimos guardar e principalmente valorizar, quando se toma algo por garantido a flor morre por falta de alimento. E a triste verdade é esta, nós só valorizamos a vida que temos por sabermos que um dia tudo termina e seremos mais alguém que morreu de sei lá o quê.

Porque no fim, é isto mesmo, não interessa se o nosso berço foi de ouro ou cartão, nem sequer interessa o dinheiro que possuímos no banco, o nosso fim é igual a todos os outros.

A vida passa a correr mas não significa que tenhamos de correr com ela, nunca existe tempo para tudo mas há que valorizar o que nos é dado, apreciar todo  o tipo de pormenor e não pensar na próxima conquista... O a seguir é depois e não sabemos se estamos cá depois.

O ser humano deixa passar muito ao lado tanto que, as melhores coisas que vivemos começa com "naquele tempo", simples coisas que o "ao lado" foi a única proximidade que tiveram.

31/01/2018

ErrO

Procurei uma simples caneta de cor qualquer e ignorei o número de pessoas que me rodeiam e vêm este meu estado. O médico pede positivismo mas não quero deixar algo por ser escrito nem algo guardado em mim.

Escrevo e escrevo mas são palavras soltas e sem sentido mas sei que ele irá perceber, quem lê os meus olhos, irá ler isto também.

Falo de saudades e falo dos dias escuros que tenho vivido sem conseguir ser o motivo do riso dele, sem sequer ser algo para ele no dia-a-dia..
É difícil de explicar em voz alta a nossa relação, é muito complexo e inexplicável a nossa conexão e a nossa própria linguagem... O tempo está a escapar-me pelas mãos, as lágrimas a fugir e eu contínuo sem saber para que lado seguir sem ter o puxão constante para vencer as minhas inseguranças e batalhas.

A minha vida pode estar realmente a acabar mas jamais quero que acabe sem saberes o que realmente mereces, não para me perdoares mas para saberes que contínuo a ser a pequena menina que adorava a tua atenção pela manhã mesmo com as nossas más-disposições e que principalmente ainda sou a rapariga que é capaz de cantar contigo no meio da rua uma música que julgamos mais ninguém conhecer.
A verdade é que és só um, apenas um ser humano nesta vida mas és o meu um motivo para realmente haver sempre mas sempre um lado bom das coisas, não interessa o dia frio que havia passado nem a quantidade de chuva que havia apanhado... ainda te tinha a ti para me realmente aquecer e me confortar.

Li aqui pelas revistas do corredor do hospital que os erros não nos podem definir como pessoas e é meio que contraditório, não achas? Nós erramos sim mas podemos deixar de ser nós, podemos falar sem pensar e pensar sem agir. Mas os erros têm essa particularidade, não são esperados... Pelo menos pelas pessoas que aos nossos olhos chegam a ser perfeitas. De  inesperados também são sem intenção e sem controle na destruição que fazem.

É incrível como pensei que tivesse todo o tempo do mundo para esperar por ti e pela minha alegria chegar porque acredita que esperava esta vida e a outra só para voltarmos às turras acerca dum jogo qualquer mas mais uma vez o que pensei controlado não era, sou realmente um erro constante coração.

Podia dizer-te obrigada mas prefiro arriscar e quem sabe errar mais uma vez ao esperar para nascer uma palavra maior que obrigada, obrigada é demasiado básico para ti.
É triste e sufocante ver-te tão perto e longe mas lanço um sorriso por ainda sequer ter a sorte de te ir vendo e ouvindo.

Amo-te e para nós todas as músicas de Mamma Mia, todas as piadas sem graça e todos os metros que já nos ouviram rir e discutir.

(Feito para o meu maior apoiante deste blogue).

24/01/2018

ESperanÇa

Onde quer que procuremos esperança é sinônimo de acreditar, e só vemos o quão grande é a nossa esperança quando realmente ja não nos resta nada se não, dar-lhe a mão e esperar que nos guie para o fim desejado.

Conseguimos menosprezar esta pequena prece duma maneira má, achamos que realmente ter fé e não ter, o fim será sempre o mesmo não importando quantas vezes pedimos algo. Quando não restar mais nada, quando já não houver mais nada, quando uma luta já não der mais frutos vamos baixar os braços e nesse momento de desistência a única coisa que irá brilhar em nós é a esperança que nem sabíamos da existência vai ser a esperança que nos vai manter em pé à espera de uma cura para uma doença mal definida, vai ser este pequeno sentimento que nos vai ajudar a pensar "ainda podemos fazer as pazes", temos esperança nas maiores coisas da vida, e apenas quando vimos que já não temos estofo para tal.

Esperança é o nosso último tiro e que rezamos que seja certeiro, a esperança é definitivamente a última a morrer e quando nos apercebemos que até mesmo isso já foi, a derrota é anunciada... Afinal a grande esperança é uma valente merda que as pessoas usam para nos confortar quando ja não existe nada para nos dizer, são fracas por não nos dizerem a verdade e nós somos ainda mais fracos por nos agarrarmos a algo que nem está sob o nosso controlo, o controlo de fazer uma depressão qualquer desaparecer, o poder de tirar alguém da má vida e assentar... Somos fracos por calçar as lutas de boxe a algo e esperar que no fim mas só no fim o nosso nome seja dito como vitorioso.

A esperança é como um ótimo carro mas (como tudo) é preciso ser tratado, estimado e principalmente trabalhado, jamais podemos esperar que um carro ande sem combustível e a esperança resulta de igual forma.

Há sempre algo no meio desta crença mas em cada escuridão existe luzes que brilham mais que outras, e o que realmente interessa é haver uma luz e se tem que ser a maldita esperança, que seja!

10/01/2018

PreSEnÇa

Chego à minha nova escola.
Tem cores diferentes e muitas pessoas, talvez o dobro da minha antiga e procuro se alguém está tão perdido quanto eu, provavelmente não, estou perdida desde há muito tempo.

Não consigo descrever a minha turma quando entro na minha suposta sala, estão todos agrupados em pequenos grupos nos cantos mais fundos da sala e pensei que fosse criar um grande silêncio com a minha chegada mas não, continuam a falar de qualquer coisa, qualquer coisa que não a minha presença.
O professor chega um minuto depois da hora e estou nervosa por quase de certeza ele me ir apresentar à frente de toda a gente mas não, olha para mim e logo a seguir abre o seu livro retomando, creio eu, o assunto da última aula. Estou cá atrás, praticamente sozinha e isso é só um eufemismo da minha vida neste momento...
Tento olhar para todos e tentar arranjar alguma cara familiar, mas não consigo ninguém é suficientemente parecido com as caras que sempre estive habituada a conviver.
A meio da aula, o professor manda calar uma rapariga e olho para ela, não tem ar de ser a típica aluna rebelde mas também não é completamente aplicada a qualquer coisa, ela ri mesmo quando o professor a apanha a falar com um grande grupo de pessoas, estariam eles a rir de mim? Não sei, sei que por momentos ela sou eu e pela primeira vez em dias eu sorrio porque se era assim que eu aparentava ser, então eu parecia ser muito feliz.
Pela primeira vez a minha barriga faz barulho e lembro-me que também faz algum tempo que o meu estômago não recebeu algo..

A aula acabou e sinto que isto foi só o começo, o começo da minha invisibilidade.