Aqui estou eu, no hotel que um dia a trouxe para celebrarmos um fim de semana comum .
Hoje celebraríamos mais uma data que estaríamos juntos e apenas agora, passado um ano de a ter deixado ir sinto dor e arrependimento. Lembro-me daquela mulher me ter dito uma vez que se algum dia eu sofresse por ela ou por amor, nunca iria ser como ela sentiu e fodasse, é impossível doer algo mais que isto.
Fui egoísta, faltou-me humildade para pensar que ela um dia poderia mesmo cumprir com a sua palavra e ir-se embora, e ela fê-lo. E não foi sozinha, foi com alguém que lhe segura a mão á frente de tudo e todos, e esse já não sou eu.
Vou até á casa de banho deste quarto de hotel que já a fiz minha e imagino-a á frente do espelho apenas a ver se a espinha dela a consegue por feia naquele conjunto magnifico que eu hoje, na minha cabeça, observo com mais detalhe e sorrio porque foi sem duvida um jantar engraçado. Olho para a banheira e vejo-nos ali dentro com ela a apreciar do ambiente calmo e nada romântico como ela gostava, tivemos uma conversa profunda sobre tudo um pouco ali dentro e fecho os olhos com dor de não poder voltar a reviver isso.
Volto para o quarto e dirigo-me á varanda, sendo dos pisos mais altos havia uma melhor vista, pelo menos era o que eu recordava mas vindo aqui agora, já não considero nada magnifico, o sorriso dela sim, era lindo .
Olho para a cama de casal que está feita, ela já não esta emaranhada nos lençóis depois duma noite desgastante para ambos, a cama esta fria e nem um pouco do cheiro dela eu consigo sentir. Deparo-me com o meu reflexo e aproximo-me do espelho onde tiramos uma foto antes de abandonar-mos o hotel e consequentemente de eu a ter abandonado e vejo que estou igual, todo este espaço não mudou.. Apenas existe a mudança que eu próprio fiz, onde está a minha menina?
Fui estupido em julgar que a vida da noite, e a vida de não parar em casa fosse fantástica, oh e foi curti imenso, conheci novos sorrisos, novos sítios e novas sensações mas tudo isto parece amador agora que comparo esta minha vida á vida que levava com ela, uma lágrima ameaça sair e proíbo-a. Tinha tudo e mesmo assim não soube ter, eu sabia que podia ter estes dois mundos e ainda assim ter a quem me agarrar durante a noite e ligar caso estivesse em problemas, fossem os que fossem ela iria tornar-se super mulher para me ajudar a resolver.
Os olhos já ardem de eu recusar as lagrimas saírem e dirijo-me á porta pronto para lhe ir dizer tudo isto que vai aqui dentro, vou-lhe berrar tanto como nunca fiz para ela entender a minha dor, vou beija-la para lhe mostrar que ainda a amo e que estou aqui, vou implorar que as insónias parem e que ela volte para me chatear depois dum mau resultado num exame mas a minha mão não gira a maçaneta, ao invés disso, deixo-me cair contra a porta.
Que direito tenho eu? Alias, o que mudaria ao fazer as minhas vontades? Por esta hora ela está a sair do seu treino com ele á porta pronto para a levar a casa e lhe dizer os melhores e piores momentos do treino e ela vai sorrir porque se sente observada com cuidado, sei disso porque houve tempos que era eu o observador e sei que ele também o é porque aquela mulher só iria estar com alguém que fosse realmente melhor que eu para ela voltar a acreditar novamente e sinto inveja, ciúmes doidos por ela fazer isto com outra pessoas mas mais uma vez, que direito tenho eu de chegar lá e dizer que ela não pode fazer isto? Nenhum, oh meu deus como ela tentou.. Como ela me tentou trazer á realidade, tantas vezes que conversamos após tudo ter acontecido e ela em código me dizer que ainda estava ali, que se voltasse jamais me iria arrepender mas não, eu preferia o café, preferia levar com as luzes da festa que já havia perdido o interesse, preferi tudo invés á minha verdadeira felicidade.
Sempre me fez falta, sempre senti vazio quando acordava ou quando deitava mas nunca me preocupei realmente porque sabia que se fosse preciso, eu ligaria e ela iria atender, sabia que se pedisse para ela vir lá a casa por qualquer motivo ela largaria tudo que estivesse a fazer e ia, porque sei que ela me amava mas agora, agora já não ama.. O seu número continua o mesmo porque ela atende, apenas já não é com a mesma felicidade ao saber que sou eu, e já nem coragem tenho para convidar para um simples café porque mesmo sabendo que ela viria iria matar-me ver toda a diferença com que ela me iria estar a tratar, o desinteresse nos seus olhos escuros.
Do nada sinto-me sozinho neste edifício cheio de pessoas certamente com gente mais bonita que ela, com mais interesse e mais posses mas não são ela, nunca ninguém irá ser a minha pequena, as mensagens que recebo a perguntar onde estou, se estou bem são todas inúteis no momento pois apercebo-me que não tenho namorada, melhor amiga nem mesmo companheira de porradas e chego á conclusão que ela não era apenas alguém com quem eu dava uns beijos, com quem eu fazia amor ou ia dar uma volta por aí... Ela foi de certo modo, o meu tudo numa pessoa.
Sinto-me patético no chão deste quarto, a deixar as lagrimas caírem enquanto vejo as estrelas desfocadas lá fora e saber que sendo cliché nenhum daqueles brilhos é igual a aquele que eu me esforçava para ver todos os dias para sentir que fiz o dia dela, que significava o meu também.
Ela é incrível, uma mulher linda por dentro e por fora, ao ver as ultimas publicações dela vejo-a feliz com ele, vejo que mesmo assim ela não deixou de ter umas saídas com os amigos que a ajudaram a apanhar os pedaços que eu espalhei, sinto falta de todas as memorias que me vem seguidamente agora e a minha cabeça dói, apetece-me berrar para abafar a dor aqui dentro, a dor de saber que a única coisa viva e em comum com ela são estas memorias, memorias que jamais irão ser vividas e dói como o inferno.
Desisto de passar aqui a noite de dia vinte e oito, pego na minha mochila e saio do quarto, caminho até á paragem mais próxima e lembro-me de ela encostada a este vidro que também estou neste momento e só agora me apercebo.
Ela passou isto e mesmo assim ainda lutou por mim?
Apenas tenho que lhe agradecer por ter sido a corajosa que foi por não deixar este amor morrer á primeira e agradecer por tudo isto que estou a sentir neste momento, por saber que realmente, para nós, aconteça o que acontecer este nosso amor nunca irá morrer.
Ira morar sempre em nós