DESpedidA

Não, tu não me amas coisíssima nenhuma, tu julgas que me amas mas na verdade só queres atenção.
Atenção essa que já não te posso dar, será que não entendes que tenho uma nova vida, que já não tenho espaço para as tuas vontades momentâneas?
O que nós tivemos foi bom, sei disso pela forma como me olhas agora, sei disso pela forma como sei que te olho... Foi bom, dá saudades mas já não dá vontade de lá voltar, pelo menos eu já não consigo sequer ponderar isso, tu sabes que arranjas melhor, não fiques com esse olhar pois se até agora nunca ficaste sozinho, só precisas de realmente te esforçar. Estás tão habituado a voltar ao meu mesmo peito, a voltar ao meu sorriso que nunca viste o fetiche que estavas a ganhar pelo meu amor por ti, mas essas tuas idas e voltas sem hora e dia marcados, fizeram-me esperar sem pensar no tempo perdido mas tudo que é demais cansa e o que tu pensavas que nao fosse acontecer, aconteceu... Eu cansei.

Já chega, dei-te oportunidade sem fim, amei-te sempre mais que a última vez e não obtive resultados vindos de ti, deixei as armas com que tanto lutava para te ter e agarrei-me ao meu amor próprio e ao que nós havíamos ganho e vivido.
Nunca nenhuma guerra foi ganha sem esforço, sem dedicação e sobre tudo sem reciprocidade... A base de tudo, o ingrediente necessário e mágico, o que realmente permite com que tudo aconteça e haja um equilíbrio, equilíbrio esse difícil de conquistar mas tão fácil de perder e foi isso, a nossa balança viciou, já não havia mais do teu lado a ser pesado, ja não davas, apenas tiravas e de tanto tirares, até do meu lado ficou vazia.

Ainda consigo ver o meu reflexo nos teus olhos bem clarinhos, e não precisas de te proteger de mim, podes chorar.. E acredita, chorar é só uma grande ilusão de que sai algo mas não, contínua tudo cá dentro e por mais que grites, fales, até te podes espernear mas tudo nunca, jamais, virá cá para fora .
Não consegui ainda perceber como te vou largar a mão e habituar-me novamente ao frio das minhas mãos, às noites vazias e o silêncio das tardes de domingo mas vou ter que aprender, e desta vez, sem a tua ajuda campeão.

Pensando melhor, não vais encontrar tão facilmente alguém como eu, quer dizer quem é o coração duro que vem aqui com as coisas todas que vivemos e ainda assim faz questão de se despedir desta forma, olhando-te nos olhos dando-te a ultima oportunidade de olhares para o brilho dos meus olhos, pelo menos último causado por ti.

Foste um sonho, um ótimo sonho que vivi mas está na hora de acordar e encarar o fim, porque tudo que inicia também finda.
Um adeus, e quem sabe as nossas linhas se cruzem e voltem para fazer o belo trajeto que começamos .

Virei costas e pela primeira vez não houve um puxão que me fizesse olhar para ele novamente e ele provar-me que tudo que tinha dito não passavam de mentiras, desta vez só sinto a força do vento a empurrar-me na direção oposta a ele, ele aceitou, eu aceitei, só é preciso nós aceitarmos.

TArdE

As minhas pernas doem de tanto correr, já nem sei controlar a minha respiração e nem consigo controlar os cenários horríveis que tenho na minha cabeça.
Finalmente chego ao número que me foi dado e sem bater á porta, eu entro e é um silencio que não estou habituado a receber quando sei que ela vai lá estar. Ela está aqui, mas não a sinto, ela está realmente aqui mas não olha para mim.
Fecho a porta devagar com medo de acordar o ser que sempre teve sono leve, e mais uma vez a realidade bate-me sem pensar duas vezes, ela não está só a dormir. Tudo á sua volta são máquinas, máquinas que mostram que está viva mas não realmente presente, toco-lhe na mão mas não chego a entrelaçar os nossos dedos porque sei que ela estivesse acordada jamais me iria deixar aproximar quanto mais tocar, e por saber que mereço é que não o faço.

" Olá...Oh Deus, tu sabes o quão mau eu sou em palavras mas o que mais me vem á cabeça neste momento é para voltares, volta para mim, volta para casa, para a nossa cama que também sente a tua falta. Como fui tão estúpido ao ponto de preferir outro sorriso ao teu? Como fui irracional ao julgar que todos os amores eram iguais, que todas as mulheres davam a mesma coisa... Tu és tudo que eu jamais irei ver novamente, és tão única, tão senhora de si mesma que é o que assusta qualquer homem. Acorda por favor e goza comigo por parecer uma menina a chorar, acorda para irmos ver a árvore de Natal e irmos patinar, tens que abrir os olhos para veres que estou a usar a tua camisola favorita, para veres que, como sempre ganhaste, tiveste razão ao dizer que eu me iria arrepender. A tua mãe deve de estar a chegar e sinto-me novamente no nosso 10º ano a esconder dela o quanto tempo passávamos juntos quando devias de estar a melhorar a tua média para fazeres o que sempre quiseste. Oh meu anjo, o orgulho que tenho em ti, o quanto te vi crescer mesmo tendo sido de longe estes últimos meses... Amo-te tanto que chega a irritar parecer que tudo o que sinto não pode ser transmitido por apenas uma palavra, mas isso é tudo que te posso dizer... Que te amo, que peço desculpas e que mais que tudo, quero que acordes. O mundo merece ver o teu sorriso, eu não mereço mas quero vê-lo todos os dias ao acordar embora saiba o quão rabugenta podes ser de manhã. Não sei se sabes mas o teu quarto daqui é cor-de-rosa, será que podes acordar e ir berrar com todo o hospital que não queres esta cor?
Tu vais acordar, nem que seja para me matar por estar a dar-te a mão mas tu vais fazei-lo, tu consegues sempre levantar-te, tu vais respirar por ti e estas maquinas vão voltar a ser exatamente isso, maquinas e não o que te está a manter aqui, comigo sem ti. Tu tens que acordar, já passou muito tempo... Tens que fazer a tua árvore de Natal, e reclamar comigo por não gostar do Natal, por favor amor, vem para nós...Eu, eu já não sei o que fazer sem ti. "

E como se não tivesse dito nada, ela continua de olhos fechados e desta vez, sei que não está a brincar comigo, desta vez eu vim mesmo tarde demais...