10/01/2019

CHoquE

Não sei no que joguei para me ter saído tamanha sorte, mas fui extremamente esperto ao fazê-lo.
Nunca precisamos de muito para pôr todos da sala a olhar para nós, muitos risos e muitas historias para contar é o que toda a gente consegue tirar desta noite onde não existe horas.
Observo todos com muito cuidado e calma, sempre gostei de carregar no botão de desligar e apreciar no meu pensamento momentos como estes impossíveis de reviver... 

A minha mão treme e percebo que lhe devem ter contado das boas para ela se contorcer tanto a rir e se esquecer que estamos fora das nossas quatro paredes, não importa com quem estejamos e onde, é importante que ela sinta o meu toque para ela saber que eu sei que ela está ali, comigo. A comida foi num instante tal como o vinho, mas nunca a cumplicidade... Essa nunca apresentará copo vazio.

Sem dar conta a pele dela descola-se da minha e ambos somos levados para assuntos diferentes e para outros lugares da mesa. Depois de novidades contadas e de matar a curiosidade a todos, as vozes vão ficando em segundo plano enquanto olho para ela, e pergunto-me se alguma vez haverá altura que o deixe de fazer... O assunto é novamente mudado mas desta vez toda a gente participa e novamente, fico a observá-la, desta vez sem admirar.
Só para me fazer lembrar o caminho que percorri e com isso, hoje poder dizer que a noite vai ser boa devido a falta de sinais de cansaço, esta mulher é tão intensa que é capaz de estar cansada apenas por ser ela, ou então porque ela é mesmo assim, preguiçosa por si só.

O encontro é levado da melhor forma mas todos temos responsabilidades e devagar a mesa vai ficando vazia, sobrando apenas o necessário para a conversa morrer. 
Finalmente o barulho desapareceu e somos só nós, com ela atenta à sua condução mas ainda assim a cantar e a fazer uns comentários aleatórios acerca desta noite, e pergunto-me, como é que alguém consegue ser tão apaixonante sem sequer se esforçar, ela sabe que não precisa mas ainda assim, hoje foi capaz de se aperaltar não só para ela mas sim para me agradar, foi o que disse quando a vi.

Ainda hoje as horas parecem minutos e é como se o tempo tivesse ciúmes e apressasse as noites em que a tenho só para mim, isto é, eu iria perceber se fosse esse o caso.
Depois do suor desaparecer dando lugar ao frio e cansaço ela aconchega-se em mim, à procura de ninho.
Tal quando nos conhecemos, alguém congelado e frígido no olhar mas no entanto à procura duma fonte de calor que não lhe desse mais tarde um choque térmico.

Ela acabou por ser isso para mim, um choque. Os meus olhos não escondiam que eu a queria, mas ela querer-me a mim também? Fui um filho da mãe que esperou e alcançou e agora não quer abrir mão disto, de a poder observar a lutar contra ela mesma para não adormecer só para me poder ouvir. 

06/09

Sem comentários:

Enviar um comentário